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Um cálculo feito pelo pesquisador Flavio Ortigao, PhD em química de polímeros pela Universidade de Ulm, na Alemanha, e apresentado com exclusividade à Agência CanalEnergia, mostrou que o Brasil perde por ano R$ 6,5 trilhões com o não aproveitamento do plástico e da biomassa para a geração de hidrogênio a partir da gaseificação.

Para chegar a esse valor, o especialista levou em consideração o fato de o Brasil ser o quarto maior produtor de plásticos do mundo e ser considerado a maior potência agrícola do planeta. Segundo o Ortigao, os plásticos têm até 14% de hidrogênio e a biomassa tem 6% de hidrogênio, o que poderiam ser aproveitados para a produção do insumo.

O acadêmico chegou a essa conclusão a partir do preço de produção do hidrogênio no mercado, que gira em torno 16,5 euros por quilo. Segundo o Banco Mundial, o Brasil produziu 79 milhões de toneladas de lixo para os aterros e lixões em 2018. De acordo com a Selurb, a associação de empresas de limpeza urbana, deste total de lixo produzido, 13,5% são plásticos, o que implica numa produção anual de 11,3 milhões de toneladas de lixo plástico que foram enviados para os aterros e lixões. O potencial de produção de hidrogênio que é perdido nos aterros é de 13Gt.

“Considerando o preço do hidrogênio no mercado, 16,5 euros por quilo, estamos falando que o custo de oportunidade que está sendo perdida é de R$ 178 bilhões anuais só com o plástico”.

Já o cálculo de geração de hidrogênio com biomassa é muito maior. O potencial de biomassa no Brasil é de cerca de 1 bilhão de toneladas em 2020, segundo dados da EPE. O potencial máximo de produção de hidrogênio de biomassa no Brasil, calculado seria de 480Gt anualmente, o que daria em torno de R$ 6,3 trilhões. Somando o potencial de hidrogênio com o plástico mais o potencial com a biomassa, o valor global da oportunidade daria de quase R$ 6,5 trilhões.

Um mercado gigantesco
Até 2050, a produção e exportação do hidrogênio deverá responder por 20% de toda a demanda de energia global, gerando um mercado de US$ 2,5 trilhões, segundo dados do Hydrogen Council. Essa transição para a economia do hidrogênio, segundo o professor, é a descarbonização da economia mundial com vistas a atingir as Metas do Acordo do Clima de Paris, de limitar o aquecimento em até 1,5 graus da temperatura do planeta em até 2030.

Os mercados internacionais, como a Alemanha, por exemplo, miram o Brasil como um potencial parceiro nesta produção de hidrogênio e visualizam o país como um possível hub de exportação do insumo.

Flavio Ortigao avalia que o Brasil poderia transformar um enorme passivo ambiental – que são os plásticos no meio ambiente – em um importante ativo energético. “Não há dúvida de que temos um problema com os plásticos. Quem nega isso é negacionista (…). Entram 325 mil toneladas por ano de plásticos na costa brasileira pelos rios. Isso mata toda a biodiversidade marinha”.

Dados da ARBRA Plásticos dão que o Brasil recicla apenas 1,2% do total de plásticos produzidos. O resto acaba em aterros e lixões, contaminando o ambiente. “Plásticos são pilhas ou armazenadores sólidos orgânicos de hidrogênio”.

“Plásticos são pilhas ou armazenadores sólidos orgânicos de hidrogênio”
Flavio Ortigao

Especificamente na matéria orgânica do lixo, uma fração importante é composta de biomassa. “No Brasil, para cada tonelada de lixo, pode se dizer que 50% é matéria orgânica”. Inclusive a Associação Brasileira de Recuperação Energética de Resíduos (Abren) tem como meta impulsionar a geração de hidrogênio a partir de resíduos de aterros e lixões.

Ele, que atua também na indústria, conta que plásticos podem ser vistos como uma longa dorsal de átomos de carbono contendo dois átomos de hidrogênio ligados a cada átomo de carbono. Já a biomassa é todo material orgânico não fossilizado e biodegradável. “A conversão desses materiais carbonáceos em hidrogênio, resultaria em enorme uma produção potencial de hidrogênio anualmente”.

Mudanças climáticas
Apesar de o Brasil ter uma das matrizes elétricas mais limpas e renováveis do mundo, o pesquisador afirma que o Brasil dá as costas a esse grande potencial energético do hidrogênio gerado a partir da gaseificação de biomassa e de plástico.

Ortigao vê com preocupação a participação do Brasil na COP26, que acontecerá nos próximos dias em Glasgow, na Escócia. “Na Europa está havendo um movimento político de isolar o Brasil. Isso é altamente trágico (…) porque o governo brasileiro tomou uma posição de oposição a esse consenso do clima”.